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Mestre em segurança, amador ao telefone: A história que vai fazer você desligar na cara do seu 'banco'

Qual é sua conta online mais importante? Provavelmente seu banco, certo? E com razão — a maioria dos cibercrimes e golpes tem motivação financeira.

Hoje, vamos analisar um caso real que vai elevar seu conhecimento sobre segurança digital e mostrar como ataques de vishing combinados com engenharia social podem ser devastadores, mesmo para especialistas.

Se você é novo por aqui e não lembra ou não faz ideia do que é vishing, dá uma olhadinha rápida neste outro artigo e vá no quadro Leia as notícias como um profissional de cibersegurança.

História da semana: como um profissional de segurança foi enganado por golpistas usando apenas o telefone ☎️

O plano de ação na seção "Segurança acima da média":

Quatro passos simples que sempre funcionam para se proteger de golpes financeiros.

Leia as notícias como um profissional de cibersegurança

Engenharia social: arte de manipular pessoas para divulgar informações confidenciais ou tomar ações contra seus interesses.

Como a engenharia social utiliza manipulação psicológica e explora o erro ou fraqueza humana em vez de vulnerabilidades técnicas ou de sistemas digitais, também é conhecida como "hacking humano".

Pronto para adicionar "especialista em defesa contra engenharia social" ao seu conjunto de habilidades? Bora lá.

O que realmente aconteceu? 🔍

Mitch (nome fictício que o jornalista que publicou a história deu para o homem, que ficou muito envergonhado, por sinal) não é uma vítima comum. Como veterano no setor de tecnologia e com vários anos de experiência na área de cibersegurança de um serviço de computação em nuvem, Mitch achava que conhecia muito bem as ameaças no mundo digital — até que foi vítima de um ataque simples, mas muito bem executado.

Veja como aconteceu:

Sexta-feira: O primeiro contato

Mitch recebeu uma ligação. Um suposto funcionário do banco informou sobre atividades suspeitas na conta dele. O número parecia legítimo, igual ao impresso no cartão de débito.

Ele desconfiou, pois sabia que é possível falsificar números de telefone (também conhecido como spoofing de ligações).

Depois verificou. Enquanto ainda estava na ligação, Mitch fez login na sua conta e viu que algumas semanas atrás várias transações não autorizadas de menos de US$ 100 cada haviam sido realizadas. Mas, havia também dois saques bem recentes de US$ 800 feitos desde caixas eletrônicos no estado da Flórida; detalhe: Mitch morava na Califórnia. De fato, havia atividades suspeitas na conta dele.

A mulher que estava falando com ele não pediu nenhuma informação pessoal do Mitch. Ela disse que o banco ia reverter essas transações fraudulentas e enviar um novo cartão de débito. O golpista não levantou suspeitas.

Sábado: A armadilha se fecha

Outra ligação. De novo, sobre atividades suspeitas na conta bancária do Mitch. Ele achou a conversa um pouco estranha e decidiu verificar.

Ele usou outro telefone para ligar para o departamento de atendimento ao cliente do banco. Ele pediu para o atendente lhe informar se havia outra ligação em andamento com ele nesse momento. O atendente confirmou: sim, alguém do banco estava falando com o “Mitch” numa outra linha. Parecia mesmo que Mitch estava falando com atendentes legítimos do banco… Só que não! Um dos golpistas ligou para o banco antes que o Mitch e fingiu ser ele. Então sim, para o banco, Mitch tinha duas ligações em andamento com diferentes atendentes.

Depois de verificar com o atendente, Mitch desligou e voltou para a primeira ligação, muito confiante 🚨 . O “atendente” disse que o banco ia enviar um código único para verificar a identidade do Mitch. Como o banco já tinha feito isso antes, Mitch deu o código que ele recebeu por SMS para esse “atendente”.

Domingo: A falsa tranquilidade

Então, tudo resolvido? Mitch entrou na sua conta várias vezes e não viu nenhum outro sinal de atividade suspeita. Aparentemente, ele não tinha mais nada do que se preocupar.

Segunda-feira: A terrível descoberta

Ao fazer login, Mitch viu uma transferência de US$ 9.800 para outra conta bancária. Aí que a ficha caiu. As ligações que ele tinha recebido na sexta-feira e no sábado eram de golpistas, não do banco.

O departamento de fraude do banco confirmou as suspeitas. Um tempo depois de notificar ao banco o que aconteceu, o investigador do banco informou que outro homem tinha ligado no sábado fingindo ser o Mitch, fornecido o código único que foi enviado por SMS para o celular do Mitch (e que ele acabou dando para os golpistas) e iniciado a transferência.

A transferência foi enviada para outra conta num banco 100% digital, também no nome do Mitch. Claro, o verdadeiro Mitch não tem conta nesse banco. Os golpistas roubaram a identidade dele para abrir essa nova conta e não levantar suspeitas, já que, do ponto de vista do banco, Mitch parecia estar enviando dinheiro de uma das suas contas para a outra.

Desfecho da história

Felizmente, o banco do Mitch deu um jeito de reverter a transferência não autorizada, devolver o dinheiro dele para a sua conta e emitir um novo cartão para ele. Infelizmente, o Mitch precisou limpar a bagunça que os golpistas fizeram; teve que limpar seu nome com o banco digital. Se recuperar depois de um roubo de identidade nunca é fácil.

Paramount Pictures Face Reveal GIF by Mission: Impossible

Tá, e aquelas transações não autorizadas de menos de US$ 100 e os dois saques de US$ 800?

Depois da investigação do departamento de fraude, Mitch disse que ele e seu banco acreditam que, em algum momento, seu cartão de débito e senha foram roubados, muito provavelmente por um dispositivo de clonagem instalado em uma maquininha de cartão, posto de combustível ou caixa eletrônico comprometido que ele usou nas últimas semanas. Com uma cópia falsificada do cartão de débito e da senha do Mitch, os golpistas puderam sacar dinheiro de sua conta em caixas eletrônicos e fazer compras em grandes lojas varejistas de diversos itens.

Mas podemos deixar esses detalhes para outra ocasião 🙃 

O que Mitch já sabia (e você precisa saber também)

Mitch conhecia as táticas dos golpistas. Sabia que o ID das chamadas pode ser falsificado (spoofing), que os criminosos e golpistas tentam manipular e enganar por meio de ligações (vishing) e como é perigoso falar códigos únicos de verificação pelo telefone.

Apesar desse conhecimento, a combinação de vários fatores o levaram a ignorar seus próprios instintos de segurança.

  • A primeira ligação (na sexta-feira) preparou o cenário para o golpe do dia seguinte
    Os golpistas fizeram o Mitch acreditar que o banco estava ciente de possível fraude na conta bancária dele, quando na verdade não estava. Além disso, não pediram nenhuma informação nem ação da parte do Mitch.

  • Quando ele ligou para o banco no sábado, o atendente fez uma pergunta estranha

    Enquanto o Mitch tentava verificar se ele estava falando mesmo com o banco, o atendente (legítimo) lhe perguntou se ele estava visitando a sua família na Flórida. Mitch respondeu que ele não tinha família lá.

    Tudo fez mais sentido quando o investigador do departamento de fraude do banco contou para ele na segunda-feira seguinte que os golpistas tinham adicionado um falso “aviso de viagem” na conta para que o banco não suspeitasse de transações feitas na Flórida com um cartão de um cliente que morava na Califórnia.

  • Um dos falsos atendentes deu informação errada para o Mitch
    Ela pediu para o Mitch dizer seu endereço atual. Em vez de simplesmente dizer, ele pediu para ela ler o endereço que eles tinham no sistema, e ela leu o endereço da casa em que ele tinha se criado. Mitch acha que ela estava usando informação disponível em registros públicos, que não estava totalmente atualizada e que eles tinham feito alguma pesquisa para tornar o ataque mais eficaz.

Mitch se arrependeu de não ter prestado atenção a esses sinais.

O excesso de confiança pode dar uma falsa sensação de segurança. Ninguém é esperto demais para evitar cair num golpe.

Nós somos vítimas por período parcial, enquanto os criminosos são golpistas e fraudadores por período integral. Quem ataca sempre tem a vantagem; exceto quando entendemos que todo cuidado é pouco, que devemos desconfiar de tudo e prestar atenção até naqueles detalhes aparentemente insignificantes.

A diferença do que acontece no sistema judicial (inocente até que se prove o contrário), alguém que entra em contato conosco por qualquer meio, deve ser considerado suspeito até que se prove o contrário.

O puro poder da engenharia social

O mais impactante dessa história? Os golpistas nem precisaram:

  • Hackear as contas do Mitch

  • Instalar malware (software malicioso) em seus dispositivos

  • Roubar suas senhas

  • Burlar os sistemas de segurança do banco

Tudo foi realizado através de engenharia social. A confiança excessiva de Mitch em seu conhecimento de segurança na verdade trabalhou contra ele, criando um ponto cego que os golpistas exploraram magistralmente.

"Beleza, mas o que isso tem a ver comigo?"

Acho que ninguém vai se perguntar isso quanto à história desta semana.

Se um profissional de segurança pode ser (e, de fato, já foi) vítima desse tipo de ataque, que chance os usuários comuns têm? Este incidente demonstra que medidas técnicas de segurança, embora importantes, podem ser burladas por engenheiros sociais habilidosos que miram no elo mais fraco de qualquer sistema de segurança: a psicologia humana.

E para essas vulnerabilidades no cérebro humano não há nenhum patch de segurança automático.

Mas para os aplicativos e sistemas que usamos há sim patches de segurança e atualizações. Quer saber quem é o herói pouco conhecido por trás de todo esse processo? Não? Ah, tudo bem…

Vou deixar o link mesmo assim: artigo épico que vale a pena ler.

Se não mudar de ideia, vou deixar o resumo por aqui também: mantenha seus aplicativos e sistemas atualizados; baixe e instale as atualizações o mais rápido possível. Assim você vai se tornar o herói anônimo do dia.

A dura verdade: algumas coisas estão além do seu controle

  • Bancos não podem impedir golpistas de falsificar seus números de telefone.

  • Vazamentos de dados podem expor seu histórico de transações.

  • Alguns dos seus dados pessoais estão em registros públicos.

  • Golpistas evoluem constantemente (é o trabalho deles!).

Princípios de segurança sólida 🔐 

  • Nunca compartilhe senhas de uso único: Senhas ou códigos de uso único enviadas para seu telefone por SMS NUNCA devem ser compartilhadas com ninguém, incluindo pessoas que alegam ser do seu banco. Use um aplicativo autenticador sempre que possível (veja como aqui).

  • Desacelere: Engenheiros sociais contam com a urgência para anular seu pensamento crítico; tirar um tempo para pensar é sua defesa mais forte.

  • Bancos legítimos jamais pedirão códigos de uso único enviados para seu telefone.

Desafio: “Agora vou achar que tudo é golpe?”

Sejamos honestos, seguir as melhores práticas de segurança pode ser demorado quando você está ocupado, irritante quando você está tentando lidar com um problema legítimo, ou constrangedor quando alguém parece tão convincente e prestativo.

Aquele momento de desligar na cara de alguém que pode realmente estar tentando ajudar pode ser desconfortável. Mas esse desconforto é um preço pequeno a pagar comparado ao impacto financeiro e emocional de ser vítima de um golpe.

Talvez o desafio seja outro: ajudar alguém com quem você se importa a entender que é melhor desconfiar do que arriscar.

💡 Sugestão: se colocar à disposição para ajudar a determinar se alguma mensagem ou ligação é golpe.

Fazer isso dá ótimas oportunidades de treinar a sua família com exemplos reais a como identificar golpes. E no trabalho é possível ter uma melhor ideia de que tipo de ataques sua empresa está sofrendo ou pode vir a sofrer se houver uma linha de comunicação clara e aberta.

Seu Salvador: Você mesmo

Isso mesmo. Suas habilidades de pensamento crítico são sua ferramenta de segurança mais valiosa.

  • Desconfie dos sinais de alerta (urgência, pedidos de códigos, informações pessoais)

  • Desligue imediatamente e sem explicação.

  • Ligue para o número oficial no seu cartão, aplicativo, ou site do banco

  • Confirme a legitimidade antes de compartilhar qualquer informação

Implementar esse processo de quatro etapas cria uma barreira de segurança que nenhum engenheiro social pode penetrar, independentemente de quão convincente ele pareça.

GIF by Demic

Golpista depois de gastar todas as táticas dele com você e nada ter dado certo 😎 

 

Segurança acima da média

Plano de ação para o final de semana 🔐 

  1. Salve o número oficial de atendimento ao cliente do seu banco nos contatos, ou favorite o site oficial do seu banco no navegador.

  2. Crie uma política pessoal de sempre desligar e ligar de volta quando contatado sobre assuntos financeiros.

  3. Compartilhe essa história com amigos e familiares — a engenharia social prospera no silêncio.

  4. Considere configurar medidas de segurança adicionais com seu banco, como limites de transação ou notificações.

No futuro, haverá mais tutoriais com ações mais detalhadas para se proteger contra ameaças mais específicas.

A diferença entre ser vítima ou não? Estar sempre um passo à frente, desconfiando primeiro e confiando depois.

Lembre-se: No mundo da cibersegurança, paranoia saudável não é apenas aceitável, é essencial.

O que achou da edição desta semana? Precisa de ajuda para implementar alguns dos passos do plano de ação? Não sabe por onde começar? Quer um plano mais personalizado? Responda este email ou deixe um comentário. Prometo ler e responder 😁 

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